segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dom Rua (Parte I)



 Diferentemente do camponês João Bosco, que descobriu a cidade somente com a idade de 15 anos, quando chegou como estudante a Chieri, Miguel Rua nasceu em Turim [9/6/1837], capital do Reino da Sardenha, onde vai morar por toda a vida. Será sempre um cidadão, o filho de uma cidade do período pré-industrial, que lentamente se desenvolvia de um passado do qual se orgulhava, numa época mais liberal de monarquia constitucional.

  No fim da década de 1840, Dom Bosco estava se tornando, na cidade de Turim, aos olhos dos seus admiradores, um personagem carismático, quase taumatúrgico. A imprensa católica começou a celebrá-lo em 1849. Um artigo afirmava que ele possuía “uma força prodigiosa” sobre o coração dos jovens. Esse “novo discípulo de Felipe Neri” tinha o poder de operar prodígios. A hagiografia salesiana faz remontar justamente a esses anos uma multiplicação de hóstias, uma multiplicação de castanhas e até a ressurreição temporária de um jovem de  15 anos, para que pudesse confessar um pecado grave antes de morrer definitivamente. 

  As pessoas, dentro e forado Oratório, costumavam atribuir-lhe milagres, mesmo quando ele negava ser o autor deles. Dos 8 anos (1855) até os 23 anos (sacerdote), Dom Rua cresce e se forma ao lado de Dom Bosco. Primeiro com contatos esporádicos, e de 1852 em Valdocco (até a morte). Rapaz, jovem, leva de presente para  Dom Bosco: inteligência lúcida, inata propensão à disciplina, boa preparação cultural, profundo espirito de piedade, amor à ordem e à exatidão. Com 17 anos  Dom Rua se coloca completamente à disposição de Dom Bosco. 

  No dia 26 de janeiro de 1854: faz “uma prova de exercício prático da caridade em favor do próximo, para chegar depois a uma promessa, e em seguida, será possível e conveniente, fazer um voto ao Senhor”. Rua é membro ativo das Conferências de S. Vicente (1855…) - Cofundador, com D. Sávio, da Companhia da Imaculada (1856). - No dia 25 março de 1855: emite votos privados. - 1858: vive fabulosa experiência com Dom Bosco em Roma.

Beato Filipe Rinaldi
Miguel Rua e Filipe Rinaldi, beatos
  Miguel, com a idade de 13 anos, no início do verão de 1850, começou a frequentar as aulas de latim para a admissão à classe de “gramática”, sob a orientação de Dom Bosco, que o observava porque esperava fazer dele, no futuro, um colaborador do seu apostolado. Em julho de 1853, Miguel foi admitido para estudar filosofia no seminário de Turim. Um seminário pobre, a bem da verdade, vítima dos movimentos revolucionários de 1848. Apesar das ordens reiteradas do arcebispo Fransoni, os seminaristas, no fim de 1847 e no início de 1848, continuavam a se entusiasmar pelas manifestações patrióticas. Agora, esse arcebispo, de temperamento conservador, via nas tendências liberais um atentado à autoridade do Estado e à da Igreja. O arcebispo ameaçava não admitir os transgressores às ordenações.

  No início do ano escolar de 1855-1856, o clérigo Rua começou os estudos de teologia frequentando as aulas do seminário. Enquanto isso, Dom Bosco refletia. Sua obra havia se consolidado com a chegada a Valdocco, em outubro de 1854, de um padre de idade madura, padre Vitório Alasonatti. Fez dele seu vice e lhe conferiu o título de prefeito. No entanto, começava a estruturar de modo mais preciso os ritmos e as atividades da casa e de toda a instituição. Mas conseguiria criar aquela sociedade religiosa que parecia necessária para reger a obra dos Oratórios?

  Numa breve anotação de Dom Rua, lê-se: “Na noite de 26 de janeiro de 1854 reunimo-nos no quarto de Dom Bosco: Dom Bosco, Rocchietti, Artiglia, Cagliero e Rua; e foi-nos proposto fazer com a ajuda de Nosso Senhor e de São Francisco de Sales uma provade exercício prático da caridade para com o próximo para chegar mais tarde a uma promessa; e por fim, se possível e conveniente, a um voto ao Senhor. Desde essa tar­de foi dado o nome de Salesianosaos que se propuseram e se propuserem tal exercício.”.

Nossa Senhora  No fim de um ano de noviciado, que ninguém desig­nava com seu verdadeiro nome, Dom Bosco pensou que era chegado o momento de dar início a uma nova fase. Durante as conferências começou a falar dos votos reli­giosos, mas de maneira quase “acadêmica”. Em março de 1855 convidou abertamente Rua a emitir os três votos. Rua aceitou. A cerimônia cercou-se da maior discrição. Ajoelhado no quarto de Dom Bosco ante um simples crucifixo, sem outra testemunha senão o seu diretor e pai espiritual, Rua fez a profissão por um ano. Era o dia 25 de março. Cerimônia sem esplendor, mas, dizia o padre Auffray que gostava de imagens, “nascia algo de grande entre aquelas quatro paredes, uma ordem religiosa começava a bater as asas”. Na verdade o jovem clérigo de dezoito anos, aluno do segundo ano de filosofia, não tinha absolutamente consciência disso. Pensava tão somente em ajudar a Dom Bosco na “obra dos oratórios”. 



  No dia 9 de dezembro, Dom Bosco disse: “Vós que frequentáveis nossas confe­rências, fostes escolhidos por mim, porque vos julgava aptos a vos tornardes um dia membros efetivos da Pia Sociedade que tomará, ou melhor, conservará o nome de Salesiana, isto é, colocada sob a proteção de São Francis­co de Sales. Estamos, pois, entendidos: quem não tiver vontade de inscrever-se peço que não venha mais às conferências que em continuação darei: o não compa­recimento será para mim sinal de renúncia à própria adesão. Deixo-vos uma semana de tempo para pensar. Rezem para que o Senhor os ilumine”.

  À saída da reunião houve um silêncio desusado. Mas logo que as línguas se desataram se podem verificar quan­ta razão tinha Dom Bosco em proceder com lentidão e prudência. Alguns murmuravam que Dom Bosco queria fazê-los “frades”. Cagliero media o pátio com grandes passos, dominado por sentimentos contraditórios.  Mas na maioria o desejo de “ficar com Dom Bosco” levou a melhor. Na “conferência de adesão” que se reuniu na tarde de 18 de dezembro, uma semana depois, falta­ram apenas dois dos que haviam participado da confe­rência precedente.

  A prudência de Dom Bosco explica o emprego de uma terminologia não muito clara. Para evitar o termo suspeito de noviciado (embora se tratasse precisamen­te disso), julgou oportuno propor-lhes “uma prova de exercício prático da caridade para com o próximo”. O nome de Salesianos na realidade não causava nenhuma surpresa. Todos conhe­ciam o culto que Dom Bosco professava ao santo bispo de Genebra. De há muito colocara o Oratório sob a pro­teção de São Francisco de Sales. Acabava-se de construir uma igreja em sua honra. Talvez o apelativo já fosse usado há tempo simplesmente para designar o pessoal do Oratório de São Francisco de Sales. Miguel Rua estava entre os escolhidos.

Um comentário:

  1. Que lindo este pequeno resumo da biografia de Dom Rua, sempre fui fã dele.Transparece na sua imagem humildade e a simplicidade de sua alma. Dom Bosco acertou na mosca escolhendo-o para iniciar a Congregação dos Salesianos.

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