“Uma ocasião, estando eu, minha
irmã e uma pequena mais velha do que nós, a trabalhar na costura, avistámos
três homens: o que tinha sido meu patrão, outro casado e um terceiro solteiro.
Minha irmã, percebendo alguma coisa e vendo-os seguir o nosso caminho, mandou-me
fechar a porta da sala. Instantes depois, sentimos que eles subiam as escadas
que davam para a sala e bateram à porta. Falou-lhes minha irmã. O que tinha
sido meu patrão mandou abrir a porta mas, como não tivessem lá obra, não lhe
abrimos a porta. O meu antigo patrão conhecia bem a casa, e subiu por umas
escadas pelo interior da habitação e os outros ficaram à porta onde tinham
batido. Ele, não podendo entrar pelo interior por um alçapão que estava fechado
e resguardado por uma máquina de costura, pegou num maço e deu fortes pancadas
nas tábuas até rebentar o alçapão, tentando passar por aí. Minha irmã, ao ver
isto, abriu a porta da sala para fugir, e conseguiu escapar-se, apesar de a
prenderem pela roupa. A outra pequena foi a segunda a fugir, mas essa ficou
presa e eu, ao ver tudo isto, saltei pela janela que estava aberta e que
deitava para o quintal. Sofri um grande abalo, porque a janela distava do chão
quatro metros: quis levantar-me logo, mas não podia, com uma forte dor na
barriga. Com o salto caiu-me um anel, que usava, sem dar por conta. Cheia de
coragem, peguei num pau e entrei pela porta do quintal para o eirado onde
estava a minha irmã a discutir com os dois casados. A outra pequena estava na
sala com o solteiro. Eu aproximei-me deles e chamei-lhes 'cães', e disse que ou
deixavam vir a pequena, ou então gritava contra eles. Aceitaram a proposta e
deixaram-na sair.
Foi nesta altura que dei falta do
anel e disse-lhes de novo:
'Seus cães, por vossa causa perdi
o meu anel!'
Um deles, que trazia os dedos
cheios de anéis, disse-me:
'Escolhe daqui um'.
Mas eu, toda zangada, respondi:
'Não quero!'
Não lhes demos mais confiança; eles
retiraram-se e nós continuamos a trabalhar. De tudo isto não contamos a ninguém,
mas a minha mãe veio a saber tudo. Pouco depois, comecei a sofrer mais e toda a
gente dizia que foi do salto que dei. Os médicos também afirmavam que muito
concorreria para a minha doença”.
Por volta dos catorze anos, Alexandrina começa um período de
sofrimentos no corpo e também no espírito, devido a falsos julgamentos.Desde o
seu acamamento, passou a ser assistida pela sua irmã. Com o tempo, foi
aceitando a sua condição de doente, tomando uma rotina quotidiana de oração e
oferecendo-se como vítima:
“Sem saber como, ofereci-me a
Nosso Senhor como vítima e, vinha, desde há muito tempo, a pedir o amor ao
sofrimento. Nosso Senhor concedeu-me tanto, tanto esta graça, que hoje não
trocaria a dor por tudo quanto há no mundo. Com este amor à dor, toda me
consolava em oferecer a Jesus todos os meus sofrimentos. A consolação de Jesus
e a salvação das almas era o que mais me preocupava.
Com a perda das forças físicas,
fui deixando todas as distrações do mundo e, com o amor que tinha à oração —
porque só a orar me sentia bem — habituei-me a viver em união íntima com Nosso
Senhor. Quando recebia visitas que me distraíam um pouco, ficava toda
desgostosa e triste por não me ter lembrado de Jesus durante esse tempo”.
Alexandrina encontra a sua vocação de vítima pelos pecadores e para
reparação divina, por amor. Dedicava grande parte da sua oração a Jesus Eucaristia,
o seu grande e eterno amor.
“Ó meu querido Jesus, eu me uno
em espírito, neste momento e desde este momento para sempre, a todas as Santas
Hóstias da Terra, em cada lugar onde habitais sacramentado. (…)”.
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