segunda-feira, 3 de setembro de 2012

De Príncipe à Salesiano Sacerdote


 Augusto Czartoryski nasceu em 2 de agosto de 1858. Sua nobre estirpe, ligada à história e aos interesses dinásticos da Polônia, tinha emigrado para a França há trinta anos e, do Palácio Lambert, às margens do Sena, dirigia uma vasta ação entre os compatriotas e junto às Chancelarias européias, com a finalidade de restaurar a unidade da Pátria, desmembrada desde 1795 entre as grandes potências.

     O príncipe Adão Czartoryski, guerreiro e homem político, tinha cedido as rédeas da família, além da atividade patriótica, ao príncipe Ladislau, unindo-se em matrimônio com a princesa Maria Amparo, filha da rainha da Espanha Maria Cristina e do duque Rianzarez. São eles os pais do nosso Augusto. Este, primogênito da família, foi visto como o ponto de referência de todos os que, depois do terceiro desmembramento da Polônia, sonhavam com o seu ressurgimento. Os desígnios de Deus, porém, eram outros.

            Aos seis anos morre-lhe a mãe, doente de tuberculose, herança que transmitirá ao filho. Quando a doença se manifestou em seus primeiros sintomas, começou para Augusto uma longa forçada peregrinação em busca da saúde, que jamais readquirirá: Itália, Suíça, Egito, Espanha foram as principais estações da sua caminhada. Mas a saúde não era o principal objetivo de sua busca: em seu espírito juvenil coexistia uma outra busca, bem mais preciosa: a da vocação.
            Não tardou muito a entender que não fora feito para a vida de corte. Aos vinte anos, escrevendo ao pai, dizia entre outras coisas, aludindo às festas mundanas, das quais era obrigado a participar: “Confesso-lhe que estou cansado disso tudo. São divertimentos inúteis que me angustiam. É-me aborrecido ser obrigado a travar conhecimentos em tantos banquetes”.

  Grande influxo sobre o jovem príncipe foi exercido por seu preceptor José Kalinowski. Este – canonizado por João Paulo II em 1991 – tinha às costas dez anos de trabalhos forçados na Sibéria, e depois se fará Carmelita. Foi preceptor de Czartoryski apenas por três anos (1874-1877), mas deixou-lhe uma marca. É ele quem nos faz saber que a orientar o príncipe em sua busca vocacional foram, sobretudo as figuras de S. Luís Gonzaga e do compatriota S. Estanislau Kostka.

Quando Kalinowski entrou entre os Carmelitas, o pai de Augusto, aceitando a sua proposta, colocou ao lado do filho como novo preceptor um sacerdote, P. Estanislau Kubowicz, que foi para o jovem uma nova ajuda espiritual.


O acontecimento decisivo, porém, foi o encontro com Dom Bosco. Augusto tinha 25 anos, quando o viu pela primeira vez. Isso aconteceu em Paris, no palácio Lambert, onde o Fundador dos Salesianos celebrou a Missa no Oratório de família. Serviam ao altar o príncipe Ladislau e Augusto. “Há muito tempo eu desejava conhecê-lo!”, disse Dom Bosco a Augusto. A partir daquele dia, Augusto viu no santo educador o pai da sua alma e o árbitro do seu futuro.

No jovem, a vocação à vida religiosa foi ficando sempre mais clara. Era mais do que explícito o fato de que não demonstrasse propensão a formar uma família, apesar da sua condição de primeiro herdeiro. Diante de propostas precisas de matrimônio, Augusto, se de um lado por respeito ao pai e segundo a etiqueta da nobreza não tinha oposto uma clara recusa, de outro, porém, jamais tinha mostrado interesse pelas pessoas indicadas.

Agora, entretanto, depois do encontro com Dom Bosco, Augusto não só sentiu reforçar-se a vocação ao estado religioso, mas teve a nítida convicção de ser chamado a ser Salesiano. E, de fato, de agora em diante “tão logo o pai lho permitia – escreve o P. Ceria – Augusto vinha a Turim para encontrar-se com Dom Bosco e receber seus conselhos. Mais ainda, participou de vários cursos de Exercícios Espirituais sob a direção do Santo, hospedando-se no Oratório, com grandes incômodos pessoais pela falta de comodidade”.
Dom Bosco tornara-se, então, o ponto de referência para o discernimento vocacional do jovem. O Santo, contudo manteve sempre uma atitude de grande cautela quanto à aceitação do príncipe na Congregação. Será, porém, o Papa Leão XIII pessoalmente a tirar qualquer dúvida. Conhecendo a vontade de Augusto, o Papa concluiu: “Dizei a Dom Bosco que é vontade do Papa que vos receba entre os Salesianos”. “Pois bem, meu caro”, respondeu Dom Bosco imediatamente, “eu o aceito. A partir deste instante, o senhor faz parte da nossa Sociedade e desejo que lhe pertença até à morte”.
Em fins de junho de 1887, depois de ter feito todas as renúncias em favor dos irmãos, o jovem foi enviado a S. Benigno Canavese para um breve aspirantado, antes de iniciar o noviciado, que começou naquele mesmo ano sob a orientação do Mestre P. Júlio Barberis. Augusto deve fazer uma reviravolta em muitos costumes: horário, alimento, vida comum... Deve também lutar contra as tentativas da família, que não se resigna a esta opção. O pai vai visitá-lo e tenta dissuadi-lo. Augusto, porém, não se deixa vencer. Em 24 de novembro de 1887 faz a vestição na Basílica de Maria Auxiliadora pelas mãos de Dom Bosco. “Coragem, meu príncipe - sussurra-lhe ao ouvido -. Hoje tivemos uma magnífica vitória. Mas posso dizer-lhe também, com grande alegria, que virá um dia em que o senhor será sacerdote e por vontade de Deus fará muito bem à sua Pátria”.
Dom Bosco morre dois meses depois, e sobre sua tumba em Valsalice, o príncipe Czartoryski torna-se Salesiano emitindo os votos religiosos.
A doença faz com que ele seja enviado à costa da Ligúria e, aqui, enfrenta os estudos de teologia. O decurso da doença faz retomar com maior insistência as tentativas da família, que recorre também às pressões dos médicos. Ele escreve ao cardeal Parocchi, a quem fora pedido que usasse sua influência para tirá-lo da vida salesiana: “Eu quis emitir os votos em plena liberdade, e o fiz com grande alegria do meu coração. Desde aquele momento, vivendo na Congregação, eu gozo de uma grande paz de espírito, e agradeço ao Senhor por ter-me feito conhecer a Sociedade Salesiana e por ter-me chamado a nela viver”.
Preparado pelo sofrimento, em 2 de abril de 1892, é ordenado sacerdote em San Remo por Dom Tomás Reggio, bispo de Ventimiglia. O príncipe Ladislau e a tia Isa não participaram da Ordenação. A família toda se reuniu depois em Mentone no dia 3 de maio. Foi uma reconciliação tácita, que impunha ao príncipe Ladislau a renúncia definitiva a sonhos obstinadamente acariciados.
A vida sacerdotal do P. Augusto durou apenas um ano, que ele passou em Alassio, num quarto que dava para o pátio dos meninos.
O cardeal Cagliero resume assim este último momento de sua vida: “Ele não era mais deste mundo! Sua união com Deus, a conformidade perfeita à divina vontade na enfermidade agravada, o desejo de conformar-se a Jesus Cristo nos sofrimentos e nas aflições, tornavam-no heróico na paciência, calmo no espírito, e invicto, mais do que na dor, no amor de Deus”.
Faleceu em Alassio na noite de sábado 8 de abril de 1893, na oitava da Páscoa, sentado na poltrona já usada por Dom Bosco. “Que bela Páscoa!”, tinha dito na segunda-feira ao irmão que o assistia, sem imaginar que celebraria o último dia da oitava da Páscoa no Paraíso. Tinha trinta e cinco anos de idade e cinco de vida salesiana. No santinho da Primeira Missa tinha escrito: “Um dia em teus átrios é para mim mais do que mil em outros lugares. Bem-aventurado quem mora em tua casa: canta sempre os teus louvores” (Salmo 83).
Seu corpo foi levado para a Polônia e tumulado na cripta paroquial de Sieniawa, junto às sepulturas de família, onde um dia Augusto tinha feito a primeira comunhão. Sucessivamente os despojos foram transladados para a igreja salesiana de Przemysl, onde estão até hoje.

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