Francisco de Sales permanece numa
relativa penumbra. Sua mensagem serve para os dias atuais? Nós, salesianos, aprendemos a ter um amor
muito grande para com Dom Bosco, e por isso, nem sempre conhecemos bem aquele
que é um dos padroeiros da congregação, São Francisco de Sales, “pastor zeloso
e doutor da caridade”, como dizem as Constituições dos SDB no artigo 9. Por
isso precisamos divulgar sua figura, obra e espiritualidade.
Dom Bosco, desde os tempos do
seminário foi um grande conhecedor, admirador e imitador das virtudes deste
santo. As Memórias Biográficas de Dom Bosco afirmam que ao iniciar a Obra do
Oratório Festivo, “o nome de São Francisco de Sales se tornara familiar entre
os jovens, e Dom Bosco estabeleceu que a festa deste amável santo fosse
celebrada com toda solenidade."
Francisco de Sales nasceu no Castelo
de Sales, no Ducado da Sabóia, numa região que hoje pertence à França, no dia
21 de agosto de 1567. Era filho de Francisco e Francisca de Sionnaz, Senhores
de Boisy. De família nobre, estudou nos melhores Colégios da época: em Paris,
com os jesuítas, fez Retórica e Filosofia e na Universidade de Pádua,
doutorou-se em Direito Civil e Canônico. Nos tempos livres dedicava-se a
estudar teologia, pois tinha em mente seguir a carreira eclesiástica sendo
padre. Seu pai alimentava sonhos de grandezas humanas para ele, e conseguiu até
que fosse nomeado Senador do Parlamento do ducado da Sabóia com 27 anos, sendo
que a idade mínima exigida para o cargo era de 30 anos. Ele era o primogênito e
por isso tinha responsabilidades familiares: levar a herança e o nome da
família para frente. Francisco renunciou a tudo para ser padre. Foi uma luta
muito difícil, pois seu pai não aceitou facilmente. Só concordou quando
Francisco foi nomeado como Preboste do Capítulo de Genebra (Presidente dos
Cônegos). Este era um título importante, na época. É bom lembrar que nesta
época Genebra não era mais a sede da Diocese, que fora transferida para Annecy.
Genebra era uma cidade “calvinista”. No dia 18 de dezembro de 1593 foi ordenado
padre. Com zelo exerceu seu ministério sacerdotal. Mal tinha iniciado este ministério,
foi convidado pelo bispo para ir como missionário na região do Chablais. Esta
região tinha sido invadida pelos protestantes calvinistas de Genebra. Quando
Francisco e seu primo Luís de Sales ali chegaram encontram destruição em toda a
parte, por causa das guerras sucessivas. Os católicos eram apenas uns 80.
Francisco fez um trabalho paciente e persistente, sem desanimar diante dos
perigos e das situações adversas de tão ousada empresa: converter os
calvinistas. E o conseguirá. Ele dirá a seu amigo Favre: “estamos absolutamente
resolvidos a trabalhar sem descanso nesta obra, a não deixar pedra sem mover, a
suplicar, a prosseguir com toda a paciência e a ciência que Deus nos der”.
Os calvinistas tinham feito um pacto
de não ouvir o missionário. Francisco então inova: já que não o querem ouvir,
irão ler. Escreve pequenas páginas com a doutrina católica e as coloca debaixo
das portas das casas. Depois de quatro
anos tinha convertido toda a região. Francisco disse a respeito disso: “Lá, (no
Chablais), onde antes encontramos com fadigas cem católicos, se encontram
agora, com fadiga, cem calvinistas.” Em
1597 foi eleito como bispo coadjutor de Genebra. Na sua humildade, não quis ser
ordenado bispo até a morte de D. Cláudio de Granier, acontecida em 1602.
Depois de uma viagem à Paris para
resolver problemas relacionados com a diocese e sabendo da morte do seu bispo,
foi ordenado como bispo e Príncipe de Genebra no dia 8 de dezembro de 1602.
Escrevendo a Madre Chantal, Francisco diz o que pensa sobre o ministério
episcopal que estava assumindo: “Deus me retirou de mim mesmo para me ligar a
Ele e me dar ao povo.” Nos vinte anos
seguintes será um bispo “reformador”, aplicando as resoluções do Concílio de
Trento em sua diocese. Em 1610 funda com a participação ativa de Santa Joana
Francisca Frémyot de Chantal a Ordem da Visitação. Morreu em Lião (França) no
dia 28 de dezembro de 1622. Seus restos mortais foram transladados para Annecy
onde estão sepultados no Mosteiro da Visitação. Foi canonizado em 1665 pelo
Papa Alexandre VII e Pio IX, em 1877 o declarou “Doutor da Igreja”. Em 1923 foi
declarado por Pio XI Padroeiro da Boa Imprensa e dos jornalistas
católicos.
Dom Bosco
não se limitou simplesmente a tomar emprestado o nome de Francisco de Sales e
não o toma somente como patrono. Se fixa no essencial e o essencial do Bispo de
Genebra está no Amor que ele vive e propõe desde a amabilidade, a doçura, a
compreensão, A paciência, a simplicidade na entrega e no sacrifício, o perdão,
a confiança. Dom Bosco assimila e faz sua esta mensagem da centralidade do
Amor, tendo em vista seu apostolado entre os jovens.
Todos os
estudos sobre Dom Bosco coincidem em afirmar que conhece, admira e se inspira
em São Francisco de Sales. Começou a conhecê-lo e a amá-lo no seminário de Chieri,
e depois no Colégio Eclesiástico de Turim.
Os santos patronos do Colégio
Eclesiástico eram S. Francisco de Sales e São Carlos Borromeu. Eram
apresentados como Modelos de pastores-bispos, que tiveram muita relevância Na
Igreja universal e na Igreja do Piemonte. (cf. Lenti, Dom Bosco: história e
carisma 1, pg 342)
Como
atesta Lemoyne, Dom Bosco conhece seus escritos, suas obras fundamentais e leu,
seguramente, sua biografia, escrita pelo P. Pedro Jacinto Gallizia (1662-1737)
(cf. Lenti, Dom Bosco: história e carisma 1, pg 309)
Na vigília
da sua ordenação sacerdotal, 5 de junho de 1841, toma como quarto propósito:
"A caridade e a doçura de São Francisco de Sales guiar-me-ão em
tudo.“ Isso constituirá a chave do seu
sistema educativo.
Nas
Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales, o próprio Dom Bosco explica com
muita clareza por que havia escolhido Francisco como patrono e modelo:
“Havíamo-nos colocado sob a proteção desse santo para que nos alcançasse de
Deus a graça de imitá-lo em sua extraordinária mansidão e na conquista das
almas. Outra razão era a de colocar-nos sob sua proteção a fim de que do céu
nos ajudasse a imitá-lo no combate aos erros contra a religião, especialmente
do protestantismo, que começava a insinuar-se insidiosamente nos nossos
povoados e assinaladamente na cidade de Turim.”
Creio que a mensagem de São
Francisco de Sales continua sendo muito atual para os nossos dias. Gostaria de
destacar seu zelo ardente, pois ele sempre é lembrado pela paciência e pela doçura.
No coração dele bem como no de Dom Bosco ardia a mesma paixão pelas almas, a
mesma caridade pastoral, que deu a ambos o gosto do apostolado direto e
criativo. Ambos foram infatigáveis anunciadores da Palavra, com uma linguagem
simples, imaginosa, popular, ambos foram catequistas convictos, ambos foram
escritores fecundos, embora em gêneros diversos. Ambos passaram longas horas no
confessionário, na direção espiritual, marcada por santa amizade e preocupada
em educar e dirigir cristãmente: cada um na própria vocação. Podemos concluir dizendo
que levaram à sério o mote "da mihi animas cetera tolle".
Texto produzido por Pe. Tarcizio Paulo Odelli,
Salesiano de Dom Bosco da Inspetoria São Pio X, Porto Alegre.
Salesiano de Dom Bosco da Inspetoria São Pio X, Porto Alegre.
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