sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O processo de decisão vocacional de Dom Bosco


O jovem João Bosco tinha 19 anos quando concluiu os seus estudos na escola pública de Chieri. Era normal que ele, neste momento, assim como os outros jovens que se situavam nesta etapa da vida, tomasse uma decisão sobre a própria vocação. No caso de João, não se tratava de uma reflexão nova: este questionamento já fazia parte dos seus pensamentos desde quando era criança, mais exatamente depois de ter o seu primeiro sonho vocacional, entre 9 e 10 anos de idade.
A partir daí, mesmo sendo tão pequeno, João buscou colocar em prática a missão que presumia ter, de levar a Palavra de Deus aos outros jovens, de acordo com as possibilidades de sua idade e de seu estado. É neste momento que ele começa o seu apostolado, reunindo os seus amigos e vizinhos para diverti-los com leituras com histórias dos clássicos da literatura e, principalmente para rezar e repetir a homilia que havia escutado na igreja pela manhã. Pelas suas habilidades, alegria e memória prodigiosa era muito amado e procurado por todos. Sua amizade era querida pelos jovens de seu povoado. Levará para a sua adolescência e juventude o propósito de ajudar os seus amigos a estarem mais próximos de Deus.
Alguns anos depois, um encontro irá entusiasmá-lo ainda mais no seu caminho de resposta vocacional. João tinha ido para Buttigliera, onde estavam acontecendo as missões populares, para ouvir as pregações dos missionários. No caminho de volta, conheceu o Pe. João Calosso, capelão de Murialdo. Este padre sábio e experimentado na vida impressionou-se com a inteligência de João, e passou a acompanhá-lo bem de perto, como seu professor particular e guia espiritual.
                A morte repentina de Dom Calosso, pouco tempo depois deste encontro, causou uma grande desestabilização na vida de João Bosco. Junto com o grande amigo e diretor espiritual foram embora também as possibilidades que possuía de seguir o caminho de formação para o sacerdócio.
As dificuldades se tornavam maiores no decorrer do caminho de João Bosco, especialmente no campo familiar e econômico. Junto com a incerteza de se possuir os dons necessários para abraçar a vocação sacerdotal, faz brotar uma angústia muito grande em seu jovem coração.
Entretanto, com muita fé e dedicação, superando muitas dificuldades, João Bosco entra no seminário diocesano de Chieri, sendo ordenado padre no dia 5 de junho de 1841. Em 3 de novembro, ingressou no Colégio Eclesiástico para prosseguir com a sua formação sacerdotal. É neste tempo que o recém-ordenado João Bosco vai ter contato com a duríssima realidade dos jovens de Turim. Junto com o Pe. José Cafasso, seu professor e diretor espiritual, visitou os cárceres, onde pôde constatar como é grande a malícia e a miséria dos homens.
Chegando ao fim o seu tempo de estudos no Colégio Eclesiástico, foi questionado pelo Pe. Cafasso, sobre o que seu coração se sentia inclinado a fazer a partir daquele momento.  Dom Bosco constatou: “parece que me encontro em meio a uma multidão de meninos que me pedem ajuda”. Enfim, havia encontrado a sua vocação, para a qual iria dedicar toda a sua vida.
            Tendo como base a experiência de vida de Dom Bosco, podemos concluir três intuições importantes:
                  A importância da família: sabemos que o pequeno João Bosco teve uma experiência familiar bastante conturbada, especialmente pela morte prematura de seu pai, pela crise econômica e pela incompreensão de seu meio-irmão Antônio. No entanto, a presença de sua mãe, Margarida, foi extraordinária. Soube conciliar os papeis de mãe e de pai, além de se responsabilizar por uma família com duas crianças e uma senhora idosa, sua sogra. O enteado, amado e considerado como filho por Margarida, nem sempre soube cooperar adequadamente e não poucas vezes criou situações muito difíceis, que Margarida precisou administrar. Com a sua fé profunda e pautada no cotidiano, soube imprimir em Dom Bosco a crença de um Deus amigo e que oferece tudo aquilo que ele necessita. A sua maneira de educar também deixou uma herança importante a Dom Bosco: é dela que ele aprenderá o seu estilo de educar e evangelizar os seus jovens.
                  O trabalho apostólico como uma forma de discernir a vontade de Deus: desde muito cedo João Bosco cultivou o principio de ser muito concreto em suas iniciativas, não esperando um tempo propicio que poderá chegar, mas buscando ser a diferença nas pessoas aqui e agora. Foi assim no início do seu ministério sacerdotal, quando quis dar uma resposta pronta aos jovens que padeciam nas ruas e nos cárceres de Turim, e foi assim quando criança, logo após o sonho dos nove anos, oferecendo aos seus amigos e vizinhos um espaço de entretenimento e de encontro com Deus. Este trabalho continua mesmo quando se muda para a casa dos Moglia e quando estuda em Castelnuovo, e se transformará na Sociedade da Alegria quando estudar em Chieri. Esta experiência apostólica – e o amadurecimento que ela proporcionou – foram muito importantes para Joao Bosco entender qual a missa que Deus havia lhe reservado.
                 A presença amiga: em vários momentos de sua adolescência e juventude, Joao Bosco irá lamentar a falta de proximidade dos sacerdotes de sua época. Irá expressar em suas Memórias o quanto ele gostaria de ter a amizade destes padres, para que pudesse partilhar sua vida espiritual e aprender com eles. Esta expectativa ele irá sanar de forma particular com o Pe. Joao Calosso, alguém que irá marcar profundamente a sua vida e que irá lhe oferecer a esperança e as condições de realizar o que Joao sente ser o chamado de Deus. Com a morte de Calosso, João Bosco irá encontrar outros sacerdotes muito bons e generosos, especialmente entre seus professores. Mas só irá manter uma identificação total com um amigo da alma no seminário, com o Pe. José Cafasso.
       Dom Bosco foi feliz em sua vida, porque tendo encontrado a sua vocação, empregou todas as suas energias em respondê-la. Uma vez que havia entendido que Deus lhe pedia para ser um pai e um amigo para os jovens, “não deu passo, não pronunciou palavra, não pôs mão em nenhum empreendimento que não visasse a salvação da juventude”. E assim viveu a sua santidade, colocando Jesus Cristo no centro da sua vida e dando o seu melhor para cumprir a missão que recebeu. Ajudou também a muitos outros jovens a seguirem o seu exemplo, orientando muitos para responder à sua vocação, especialmente os de seu oratório que mais tarde se tornariam padres, pais de família, religiosos... E você, já sabe o que Deus quer para a sua vida?

Padre Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Delegado para a Pastoral Juvenil e Vocacional da Inspetoria Salesiana de São Paulo

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