Sabemos que nossa família salesiana
nasceu de uma catequese. Após o histórico encontro com o jovem Bartolomeu
Garelli na sacristia da Igreja de São Francisco de Assis, em Turim, Dom Bosco
lhe ministra uma catequese básica e inicial, prolongada não somente nos dias e anos
seguintes, mas em toda a vida do fundador e, podemos dizer, perpetuada na vida
da família salesiana. Formar o bons cristãos e honestos cidadãos, foi a meta de
toda sua vida no trabalho com a juventude. E, para formar o bom cristão, a catequese é um dos mais
eficazes meios.
Desde criança Dom Bosco mostrava
pendores e gosto pela catequese. Como jovem sacerdote, apenas saído do
seminário e com formação muito erudita, submetia seus sermões e catequeses à
Mamãe Margarida, para torna-los mais compreensíveis. Em suas catequeses usou
muito o gênero “parábolas” tão presente na pregação de Jesus. Inventou também o
gênero “sonhos”: muitos deles, particularmente aqueles chamados proféticos (dos nove anos, da expansão missionária da Congregação),
ele realmente os teve, e os considerava inspirados pela graça divina; outros,
porém eram criações catequéticas a fim de ilustrar melhor seus ensinamentos, e
com isso cativava a atenção e transmitia sua mensagem.
Hoje estamos muito acostumados com a
presença da Bíblia na catequese. No
tempo de Dom Bosco valorizava-se mais a História
Sagrada. Ele escreveu uma de grande sucesso editorial... hoje precisaria
ser reescrita, dado o avanço dos estudos bíblicos. Através de sua História Sagrada não somente seus
jovens, mas inúmeras gerações nos anos seguintes tiveram acesso fácil ao mundo
bíblico e aos principais momentos da História da Salvação. Se Dom Bosco hoje
vivesse, como ele valorizaria o uso direto das Sagradas Escrituras, como tanto
pede a Igreja! Conta-se que ele chegou a memorizar (em latim, como era costume)
livros inteiros da Bíblia, e citava continuamente versículos bíblicos.
Um outro elemento muito valorizado hoje
na catequese é o ambiente de comunidade
cristã que possibilita o autêntico crescimento da fé. Não basta ensinar a
doutrina, ou a rezar. É preciso viver a fé num ambiente comunitário que ajude as pessoas a viverem aquilo no qual creem. Esse espírito ou dimensão
comunitária da catequese é essencial para a boa e eficaz transmissão da fé.
Na América Latina como em outros lugares na Igreja é muito cultivado esse
espírito comunitário. São as célebres comunidades
eclesiais de base, ou pequenas
comunidades. Ora, sem forçar muito, podemos dizer que Dom Bosco já intuiu o
grande valor desse espírito comunitário,
que ele chamava também de “espírito de família”. Não chamou suas escolas,
oficinas e outras obras de colégios, nem
as comunidades salesianas de mosteiro,
ou convento, como era comum na época,
mas de casas. Essa evocação da casa e do lar não é outra coisa senão a vontade de transmitir o espírito de família ou dimensão comunitária. O oratório festivo, tal como Dom Bosco o
reformulou e propagou, é um verdadeiro ambiente cristão onde a educação da fé
acontece não só no encontro catequético e
na igreja, mas na mesma vida intensa de um autêntico oratório. Os oratórios são
verdadeiras comunidades eclesiais de base
para jovens!
Outro grande elemento cultivado por Dom
Bosco para educar seus meninos na verdadeira e profunda fé cristã foi a prática
sacramental, sobretudo a participação na Santa Eucaristia e na prática do
Sacramento da Reconciliação (confissão). Se de um lado as grandes devoções brancas (Eucaristia, devoção a Nossa
Senhora e amor ao Papa) foram o conteúdo de sua catequese, por outro ele foi
talvez o maior confessor de jovens de seu tempo. Essa dimensão
litúrgico-sacramental é uma das mais relevadas na catequese de hoje. A
tradicional catequese como preparação para recebe os sacramentos hoje se
transforma nos processos da incitação à vida
cristã. É a inspiração catecumenal ou
mistagógica da catequese que a Igreja
tanto recomenda hoje e que Dom Bosco facilmente assumiria.
Não podemos falar de Dom Bosco e a catequese sem fazer
referência às suas inúmeras publicações catequéticas, principalmente as Leituras Católicas, os Almanaques, o Boletim Salesiano. Em vida, Dom Bosco fundou editoras e inúmeras
escolas tipográficas através das quais publicava suas obras. Seus filhos, os
salesianos e outros membros da família salesiana, por todo o mundo continuam
esse esforço editorial, sobretudo na área da catequese. Universidades e Centros
Universitários Salesianos também oferecem hoje os melhores cursos na área da catequese. É o carisma catequético de Dom Bosco
que se prolonga no tempo, até hoje!
Pe. Luiz Alves de Lima, SDB; doutor em teologia pastoral catequética e
editor da Revista de Catequese do
UNISAL, campus Pio XI.
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