quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Dom Bosco e a Catequese ontem e hoje


Sabemos que nossa família salesiana nasceu de uma catequese. Após o histórico encontro com o jovem Bartolomeu Garelli na sacristia da Igreja de São Francisco de Assis, em Turim, Dom Bosco lhe ministra uma catequese básica e inicial, prolongada não somente nos dias e anos seguintes, mas em toda a vida do fundador e, podemos dizer, perpetuada na vida da família salesiana. Formar o bons cristãos e honestos cidadãos, foi a meta de toda sua vida no trabalho com a juventude. E, para formar o bom cristão, a catequese é um dos mais eficazes meios.

Desde criança Dom Bosco mostrava pendores e gosto pela catequese. Como jovem sacerdote, apenas saído do seminário e com formação muito erudita, submetia seus sermões e catequeses à Mamãe Margarida, para torna-los mais compreensíveis. Em suas catequeses usou muito o gênero “parábolas” tão presente na pregação de Jesus. Inventou também o gênero “sonhos”: muitos deles, particularmente aqueles chamados proféticos (dos nove anos, da expansão missionária da Congregação), ele realmente os teve, e os considerava inspirados pela graça divina; outros, porém eram criações catequéticas a fim de ilustrar melhor seus ensinamentos, e com isso cativava a atenção e transmitia sua mensagem.

Hoje estamos muito acostumados com a presença da Bíblia na catequese. No tempo de Dom Bosco valorizava-se mais a História Sagrada. Ele escreveu uma de grande sucesso editorial... hoje precisaria ser reescrita, dado o avanço dos estudos bíblicos. Através de sua História Sagrada não somente seus jovens, mas inúmeras gerações nos anos seguintes tiveram acesso fácil ao mundo bíblico e aos principais momentos da História da Salvação. Se Dom Bosco hoje vivesse, como ele valorizaria o uso direto das Sagradas Escrituras, como tanto pede a Igreja! Conta-se que ele chegou a memorizar (em latim, como era costume) livros inteiros da Bíblia, e citava continuamente versículos bíblicos.

Um outro elemento muito valorizado hoje na catequese é o ambiente de comunidade cristã que possibilita o autêntico crescimento da fé. Não basta ensinar a doutrina, ou a rezar. É preciso viver a fé num ambiente comunitário que ajude as pessoas a viverem aquilo no qual creem. Esse espírito ou dimensão comunitária da catequese é essencial para a boa e eficaz transmissão da fé. Na América Latina como em outros lugares na Igreja é muito cultivado esse espírito comunitário. São as célebres comunidades eclesiais de base, ou pequenas comunidades. Ora, sem forçar muito, podemos dizer que Dom Bosco já intuiu o grande valor desse espírito comunitário, que ele chamava também de “espírito de família”. Não chamou suas escolas, oficinas e outras obras de colégios, nem as comunidades salesianas de mosteiro, ou convento, como era comum na época, mas de casas. Essa evocação da casa e do lar não é outra coisa senão a vontade de transmitir o espírito de família ou dimensão comunitária. O oratório festivo, tal como Dom Bosco o reformulou e propagou, é um verdadeiro ambiente cristão onde a educação da fé acontece não só no encontro catequético e na igreja, mas na mesma vida intensa de um autêntico oratório. Os oratórios são verdadeiras comunidades eclesiais de base para jovens!

Outro grande elemento cultivado por Dom Bosco para educar seus meninos na verdadeira e profunda fé cristã foi a prática sacramental, sobretudo a participação na Santa Eucaristia e na prática do Sacramento da Reconciliação (confissão). Se de um lado as grandes devoções brancas (Eucaristia, devoção a Nossa Senhora e amor ao Papa) foram o conteúdo de sua catequese, por outro ele foi talvez o maior confessor de jovens de seu tempo. Essa dimensão litúrgico-sacramental é uma das mais relevadas na catequese de hoje. A tradicional catequese como preparação para recebe os sacramentos hoje se transforma nos processos da incitação à vida cristã. É a inspiração catecumenal ou mistagógica da catequese que a Igreja tanto recomenda hoje e que Dom Bosco facilmente assumiria.

Não podemos falar de Dom Bosco e a catequese sem fazer referência às suas inúmeras publicações catequéticas, principalmente as Leituras Católicas, os Almanaques, o Boletim Salesiano. Em vida, Dom Bosco fundou editoras e inúmeras escolas tipográficas através das quais publicava suas obras. Seus filhos, os salesianos e outros membros da família salesiana, por todo o mundo continuam esse esforço editorial, sobretudo na área da catequese. Universidades e Centros Universitários Salesianos também oferecem hoje os melhores cursos na área da catequese. É o carisma catequético de Dom Bosco que se prolonga no tempo, até hoje!

Pe. Luiz Alves de Lima, SDB; doutor em teologia pastoral catequética e editor da Revista de Catequese do UNISAL, campus Pio XI.