quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Beato Artêmides Zatti e Papa Francisco

O P. Juan Edmundo Vecchi, VIII Sucessor de Dom Bosco, na Carta “Beatificação do coadjutor Artêmides Zatti: uma novidade empolgante” acolheu um testemunho do P. Jorge Mario Bergoglio SJ, hoje Papa Francisco, que pôde conhecer a intercessão do Beato. Repropomos a passagem da Carta do P. Vecchi (ACG 376).

Não será inútil ouvir de alguém que experimentou a eficaz intercessão de Artêmides Zatti exatamente a respeito da vocação do consagrado leigo, e teve a delicada atenção de nos referir a sua experiência. Trata-se de Sua Emcia. Dom Jorge Mário Cardeal Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires e Provincial dos Jesuítas aos tempos em que nos prestou o seguinte testemunho.
Transcrevo o texto da carta, enviada ao P. Caetano Bruno SDB e datada de
Buenos Aires, 18 de maio de 1986.


«Caríssimo P. Bruno: Pax Christi! Em sua carta de 24 de fevereiro, o senhor me pedia que tentasse escrever alguma coisa a respeito da sua experiência tida com o Sr. Zatti (do qual me tornei grande amigo), relativamente às vocações de Irmãos Coadjutores. […]


Estávamos com mui grande penúria de Confrades Coadjutores. Tomo como referência o ano de 1976, ano em que conheci a vida do Sr. Zatti. Nesse ano, o Irmão mais jovem tinha 35 anos, era enfermeiro, e morreria quatro anos mais tarde, vítima de um tumor cerebral. O que o seguia, em idade, tinha 46 anos; e o que vinha depois desse, 50. Os outros, todos idosos (continuando a trabalhar apesar dos mais de 80 anos). Este “quadro demográfico” dos Coirmãos Coadjutores na circunscrição argentina induzia muitos a pensar que se tratava de uma situação irreversível e que não apareceriam outras vocações. Alguns, até, se interrogavam sobre a “atualidade” da vocação do Confrade Coadjutor na Companhia, porque – levando em consideração os fatos – parecia que se haveriam de extinguir. Além disso, faziam-se esforços em vários lugares para delinear uma “imagem nova” do Irmão Coadjutor, para ver se – por esse caminho – se ofereceria um apelo mais forte sobre os jovens que quisessem seguir esse ideal.

Por outro lado, o Padre Geral, P. Pedro Arrupe SJ, insistia com força sobre a necessidade da vocação do Irmão Coadjutor para o inteiro corpo da Companhia. Chegou a dizer que a Companhia não seria a Companhia, sem os Coadjutores. Os esforços feitos pelo P. Arrupe nessa área foram ingentes. A crise era não era apenas de alguma Província, mas de toda a Companhia (relativamente às vocações de Coadjutores).

Em 1976, creio que pelo mês de setembro, aproximadamente, durante uma visita canônica aos missionários jesuítas do norte argentino, detive-me alguns dias no Arcebispado de Salta. Ali, entre uma conversa e outra de fim de refeição, Dom Pérez me racontou a vida do Sr. Zatti. Deu-me até o livro de sua vida. Chamou-me a atenção a sua figura tão completa de Coadjutor. Naquele momento senti que devia pedir a Deus, por intercessão daquele grande Coadjutor, que nos mandasse vocações de Coadjutores. Fiz novenas e pedi aos noviços que a fizessem. […]

Em Salta senti em várias ocasiões a inspiração de recomendar ao Senhor e à Senhora do Milagre, o aumento de vocações da Província (isto em geral, e não especificadamente de Coadjutores, coisa que fiz com o Sr. Zatti). Além disso fiz uma promessa: que os noviços iriam em peregrinação na festa do Senhor do Milagre, se alcançássemos o número de 35 noviços (e isto se realizou em setembro de 1979).

Volto ao pedido de vocações de Coadjutores. Em julho de 1977 entrou o primeiro Coadjutor jovem (atualmente com 32 anos). No dia 29 de outubro daquele mesmo ano entrou o segundo (atualmente com 33)».

A carta prossegue, apresentando ano por ano o elenco de outros 16 coadjutores que entraram de 1978 a 1986. E continua:

«Desde que começamos as orações ao Sr. Zatti, entraram 18 Irmãos jovens, que perseveram, e outros cinco que deixaram o noviciado ou o juniorato. Ao todo, 23 vocações.
Os noviços, os estudantes e os Coadjutores jovens fizeram várias vezes a Novena em honra do Sr. Zatti, pedindo vocações de Coadjutores. Eu mesmo a fiz. Estou convencido da sua intercessão para esse problema, porque, considerando o número, é um caso raro na Companhia. Em agradecimento, na 2ª e 3ª edição do Devocionário do Sagrado Coração, pusemos a Novena para pedir a Canonização do Sr. Zatti.

Um dado interessante é a qualidade dos que entraram e que perseveram. São jovens que querem ser Irmãos Coadjutores como os queria Santo Inácio, sem ilusões... Para nós a vocação do Confrade Coadjutor é muito importante. O P. Arrupe dizia que a Companhia, sem eles, não seria a Companhia. Eles têm um carisma especial que se alimenta na oração e no trabalho. E fazem bem a todo o corpo da Companhia. […] São piedosos, alegres, trabalhadores, saudáveis. Muito viris, são conscientes da vocação a que foram chamados. Sentem especial responsabilidade de rezar pelos jovens Estudantes jesuítas que se preparam ao sacerdócio. Neles não se vêem “complexos de inferioridade” pelo fato de não serem sacerdotes; nem lhes passa pela cabeça aspirar ao diaconato…, etc.; sabem qual seja a sua vocação: e assim a querem. Isto é salutar. Faz bem.

Esta foi, em linhas gerais, a história da minha relação com o Sr. Zatti a respeito do problema das vocações de Irmãos Coadjutores para a Companhia. Repito que estou convencido da sua intercessão, porque sei quanto temos rezado pondo-o como nosso advogado.
Nada mais por hoje. Seu afeiçoadíssimo em Nosso Senhor e em Sua Mãe Santíssima,

Jorge Mario Bergoglio SJ »

Um esplêndido estímulo também para nós a fim de interpormos a intercessão do nosso Artêmides Zatti em favor do aumento de boas e santas vocações de Salesianos Irmãos.  



Artigo publicado em 14.mar.2013 no site ANS (Agência Info Salesiana).
<< http://infoans.org/1.asp?sez=1&sotSez=13&doc=8977&lingua=5 >>