sexta-feira, 28 de setembro de 2012

“Desde toda a eternidade Deus nos escolheu para sermos santos”


Quem faz os Santos é Deus, desde que o ser humano colabore com Ele. Aliás, como ensina São Paulo aos Efésios, “desde toda a eternidade Deus nos escolheu para sermos santos”, à semelhança de seu Filho Jesus.

Como Deus nos santifica? Em primeiro lugar, pelo Batismo que é a porta da santificação para aqueles que conhecem Jesus Cristo e sua Igreja. Semeada na boa terra do coração, a semente da santidade está destinada a tornar-se árvore frondosa. De que forma? Pela Palavra de Deus, pelos Sacramentos, pela oração, pela vivência pessoal e eclesial... , a semente da santidade germina, cresce, se fortalece, floresce e produz frutos de vida eterna.

A Igreja é o “jardim do Espírito Santo”; nesse “jardim” floresce a santidade dos batizados. Há variadíssimas qualidades de “flores”, cada qual bela e perfumada a seu modo, na medida em que o Espírito do Senhor as cultiva e elas se deixam cultivar. Em última análise, sempre se trata de viver conscientemente, cada dia, o próprio Batismo.

É assim que vemos a Igreja encher-se de santos e santas, alguns, inclusive, postos sobre os altares como modelos excelentes de vida evangélica. De qualquer forma, todos os que participam da felicidade do céu são verdadeiramente santo. E também os que, na terra, procuram corresponder à vocação à santidade iniciada no Batismo.

A vocação à santidade é abraçada com especial empenho por aqueles que buscam consagrar-se e serem consagrados na “vida religiosa”. Entre eles estamos também nós que pertencemos à Família Salesiana. Esta árvore frondosa, brotada do coração de Dom Bosco, é uma Família que busca a santidade, apesar de inevitáveis falhas.


Por Dom Hilário Moser, sdb

Dom Hilário Moser é Bispo Emérito da Diocese de Tubarão (SC) e atualmente mora na comunidade salesiana Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas (SP).

sábado, 22 de setembro de 2012

José Calasanz e 31 Companheiros Mártires.


“Assassinados pela fé em Cristo, mortos porque membros da Igreja”. Com estas palavras o Papa João Paulo II, a 11 de março de 2001, na Praça São Pedro iniciava a homilia de beatificação de 233 mártires espanhóis.  Ambos perseguidos e violentamente assassinados, cada um ao seu modo, pela Guerra Civil que marcou o país ibérico de 1936 a 1939. Três anos marcados por ásperas ideologias anárquicas e milicianas que incitavam o anticlericalismo. Durante este período de inúmeras incursões contra a Igreja grande foi o número de sacerdotes, religiosos, religiosas, além leigos comprometidos que seguiram o batismo vermelho.

Hoje 22 de setembro celebramos com especial carinho uma parcela desses homens e mulheres que movidos pela fé no Ressuscitado não temeram a morte. São eles José Calasanz e seus 31 companheiros mártires, ambos unidos pela fé em Cristo e o carisma de São João Bosco. Destes 31, 15 são sacerdotes salesianos; 7 salesianos irmãos (coadjutores); 6 salesianos clérigos (em formação ao sacerdócio); 2 irmãs salesianas (Filhas de Maria Auxiliadora); e, um colaborador leigo. Com exceção de um deles, assassinado em 1938, todos os demais nasceram aos Céus no ano de 1936.  
Consta lembrar que aqui não cessa o número de membros da Família Salesiana mortos durante a Guerra Civil Espanhola, ao todo foram 95 mártires. Todavia, estes foram divididos em 2 processos canônicos (inicialmente 3). O primeiro grupo é este de 32 beatos salesianos que hoje celebramos, todos estes da localidade de Valência. Já o segundo grupo é composto pelos mártires das regiões de Sevilha e Madri.

 
Nós, porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que esperamos ansiosamente o Senhor que transformará o nosso singelo corpo em corpo glorioso”. (Cf. Fl. 3, 20-21).
Caríssimos, que a fidelidade desses bem-aventurados mártires nos impulsione a confiança no Senhor da Vida, e que a intercessão de cada um deles nos leve a compreender os desígnios da Bondade e do Amor.
 
Por Magno Fonzar, noviço salesiano.

 

 

sábado, 15 de setembro de 2012

Dom Bosco: Um mestre para a educação



"Ele sentia ter recebido especial vocação e ser assistido e quase guiado pela mão, no modo de atuar a sua missão, pelo Senhor e pela intervenção maternal da Virgem Maria. A sua resposta foi tal que a Igreja o propôs oficialmente aos fiéis como modelo de santidade".
 
"Tanto espírito de iniciativa é fruto de uma profunda interioridade. Na Igreja e no mundo a visão educativa integral, que vemos encarnada em João Bosco, é uma pedagogia realista da santidade. Urge recuperar o verdadeiro conceito de 'santidade', como componente da vida de todo crente. A originalidade e a audácia da proposta de uma 'santidade juvenil' são intrínsecas à arte educativa deste grande santo, que pode ser justamente definido 'mestre de espiritualidade juvenil'".
 
"O seu particular segredo foi o de não frustrar as aspirações profundas dos jovens (necessidade de vida, de amor, de expansão, de alegria, de liberdade, de futuro), e, ao mesmo tempo, de levá-los, gradual e realisticamente, a experimentar que só na 'vida de graça', isto é, na amizade com Cristo, se realizam os ideais mais autênticos".

Beato João Paulo II, Pp.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Namuncurá: O virtuoso índio Araucano


Zeferino nasceu de família altiva e generosa, da tribo valente dos Índios Araucanos, das terras da Patagônia. Se nele a santidade pôde florescer foi porque achou um terreno propício nas qualidades humanas próprias da sua terra e da sua estirpe, qualidades que ele assumiu e aperfeiçoou.

 Escolheu para modelo de vida, Domingos Sávio. Antes de tudo tinha a alegria. “Ele sorri com os olhos”, diziam de Zeferino os seus companheiros. Era a alma das recreações, de que participava com criatividade e entusiasmo, por vezes até com irrupção. Sabia fazer mágicas, o que lhe valeu o título de “mago”. Organizava competições, e ensinava aos seus colegas o melhor modo de preparar arcos e flechas, a fim de, ao depois, treiná-los no tiro ao alvo.

Dom Bosco recomendava a Domingos também os deveres de estudo e piedade. No colégio salesiano de Villa Sora, em Frascáti (Itália), Zeferino – embora encontrando dificuldades em língua italiana – conseguiu em poucos meses tornar-se o segundo da classe. No boletim de notas sobressai um ótimo desempenho em língua latina, que para ser sacerdote representava então requisito importante.

A piedade de Zeferino era normal e característica, dos ambientes salesianos, firmemente radicada nos Sacramentos, especialmente na Eucaristia, considerada “a coluna” do sistema preventivo. Era por isso que Zeferino assumia de boa vontade o encargo de sacristão. Durante os meses da sua permanência em Turim, era visto deter-se por longas horas no Santuário de Maria Auxiliadora, em diálogo íntimo com o Senhor.Dom Bosco por fim recomendava a Domingos que ajudasse os colegas.

A poucos dias da morte, o nosso beato disse ao P. Iorio: “Padre, eu dentro de pouco tempo vou partir, mas recomendo-lhe este pobre jovem que jaz nessa cama perto da minha. Volte com freqüência a visitá-lo… Sofre tanto! De noite quase não dorme: tosse muito…”. Isto dizia Zeferino, cujo estado era muito pior e absolutamente não podia dormir.

 Ao entrar na Basílica Vaticana pode-se ver bem no alto, no último nicho à direita da nave central, uma grande estátua de São João Bosco, que aponta para o altar e o túmulo de São Pedro. Perto dele estão dois jovens: um de feições européias, outro com os típicos traços somáticos da gente sul-americana. É evidente a referência aos dois jovens santos: Domingos Sávio e Zeferino Namuncurá. É a única representação de adolescentes presentes na Basílica Vaticana. Permanece assim, fixado no mármore, no coração da cristandade, o exemplo da santidade juvenil e, junto, persiste forjada a perene validade das intuições pedagógicas de Dom Bosco: após um século e meio, na Patagônia como na Itália e em tantos países do mundo, o sistema preventivo amadurou em frutos quase inesperados, formou heróis e santos.
 
Tarcísio, Cardeal Bertone - Homilia de Beatificação de Zeferino Namuncurá

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

De Príncipe à Salesiano Sacerdote


 Augusto Czartoryski nasceu em 2 de agosto de 1858. Sua nobre estirpe, ligada à história e aos interesses dinásticos da Polônia, tinha emigrado para a França há trinta anos e, do Palácio Lambert, às margens do Sena, dirigia uma vasta ação entre os compatriotas e junto às Chancelarias européias, com a finalidade de restaurar a unidade da Pátria, desmembrada desde 1795 entre as grandes potências.

     O príncipe Adão Czartoryski, guerreiro e homem político, tinha cedido as rédeas da família, além da atividade patriótica, ao príncipe Ladislau, unindo-se em matrimônio com a princesa Maria Amparo, filha da rainha da Espanha Maria Cristina e do duque Rianzarez. São eles os pais do nosso Augusto. Este, primogênito da família, foi visto como o ponto de referência de todos os que, depois do terceiro desmembramento da Polônia, sonhavam com o seu ressurgimento. Os desígnios de Deus, porém, eram outros.

            Aos seis anos morre-lhe a mãe, doente de tuberculose, herança que transmitirá ao filho. Quando a doença se manifestou em seus primeiros sintomas, começou para Augusto uma longa forçada peregrinação em busca da saúde, que jamais readquirirá: Itália, Suíça, Egito, Espanha foram as principais estações da sua caminhada. Mas a saúde não era o principal objetivo de sua busca: em seu espírito juvenil coexistia uma outra busca, bem mais preciosa: a da vocação.
            Não tardou muito a entender que não fora feito para a vida de corte. Aos vinte anos, escrevendo ao pai, dizia entre outras coisas, aludindo às festas mundanas, das quais era obrigado a participar: “Confesso-lhe que estou cansado disso tudo. São divertimentos inúteis que me angustiam. É-me aborrecido ser obrigado a travar conhecimentos em tantos banquetes”.

  Grande influxo sobre o jovem príncipe foi exercido por seu preceptor José Kalinowski. Este – canonizado por João Paulo II em 1991 – tinha às costas dez anos de trabalhos forçados na Sibéria, e depois se fará Carmelita. Foi preceptor de Czartoryski apenas por três anos (1874-1877), mas deixou-lhe uma marca. É ele quem nos faz saber que a orientar o príncipe em sua busca vocacional foram, sobretudo as figuras de S. Luís Gonzaga e do compatriota S. Estanislau Kostka.

Quando Kalinowski entrou entre os Carmelitas, o pai de Augusto, aceitando a sua proposta, colocou ao lado do filho como novo preceptor um sacerdote, P. Estanislau Kubowicz, que foi para o jovem uma nova ajuda espiritual.


O acontecimento decisivo, porém, foi o encontro com Dom Bosco. Augusto tinha 25 anos, quando o viu pela primeira vez. Isso aconteceu em Paris, no palácio Lambert, onde o Fundador dos Salesianos celebrou a Missa no Oratório de família. Serviam ao altar o príncipe Ladislau e Augusto. “Há muito tempo eu desejava conhecê-lo!”, disse Dom Bosco a Augusto. A partir daquele dia, Augusto viu no santo educador o pai da sua alma e o árbitro do seu futuro.

No jovem, a vocação à vida religiosa foi ficando sempre mais clara. Era mais do que explícito o fato de que não demonstrasse propensão a formar uma família, apesar da sua condição de primeiro herdeiro. Diante de propostas precisas de matrimônio, Augusto, se de um lado por respeito ao pai e segundo a etiqueta da nobreza não tinha oposto uma clara recusa, de outro, porém, jamais tinha mostrado interesse pelas pessoas indicadas.

Agora, entretanto, depois do encontro com Dom Bosco, Augusto não só sentiu reforçar-se a vocação ao estado religioso, mas teve a nítida convicção de ser chamado a ser Salesiano. E, de fato, de agora em diante “tão logo o pai lho permitia – escreve o P. Ceria – Augusto vinha a Turim para encontrar-se com Dom Bosco e receber seus conselhos. Mais ainda, participou de vários cursos de Exercícios Espirituais sob a direção do Santo, hospedando-se no Oratório, com grandes incômodos pessoais pela falta de comodidade”.
Dom Bosco tornara-se, então, o ponto de referência para o discernimento vocacional do jovem. O Santo, contudo manteve sempre uma atitude de grande cautela quanto à aceitação do príncipe na Congregação. Será, porém, o Papa Leão XIII pessoalmente a tirar qualquer dúvida. Conhecendo a vontade de Augusto, o Papa concluiu: “Dizei a Dom Bosco que é vontade do Papa que vos receba entre os Salesianos”. “Pois bem, meu caro”, respondeu Dom Bosco imediatamente, “eu o aceito. A partir deste instante, o senhor faz parte da nossa Sociedade e desejo que lhe pertença até à morte”.
Em fins de junho de 1887, depois de ter feito todas as renúncias em favor dos irmãos, o jovem foi enviado a S. Benigno Canavese para um breve aspirantado, antes de iniciar o noviciado, que começou naquele mesmo ano sob a orientação do Mestre P. Júlio Barberis. Augusto deve fazer uma reviravolta em muitos costumes: horário, alimento, vida comum... Deve também lutar contra as tentativas da família, que não se resigna a esta opção. O pai vai visitá-lo e tenta dissuadi-lo. Augusto, porém, não se deixa vencer. Em 24 de novembro de 1887 faz a vestição na Basílica de Maria Auxiliadora pelas mãos de Dom Bosco. “Coragem, meu príncipe - sussurra-lhe ao ouvido -. Hoje tivemos uma magnífica vitória. Mas posso dizer-lhe também, com grande alegria, que virá um dia em que o senhor será sacerdote e por vontade de Deus fará muito bem à sua Pátria”.
Dom Bosco morre dois meses depois, e sobre sua tumba em Valsalice, o príncipe Czartoryski torna-se Salesiano emitindo os votos religiosos.
A doença faz com que ele seja enviado à costa da Ligúria e, aqui, enfrenta os estudos de teologia. O decurso da doença faz retomar com maior insistência as tentativas da família, que recorre também às pressões dos médicos. Ele escreve ao cardeal Parocchi, a quem fora pedido que usasse sua influência para tirá-lo da vida salesiana: “Eu quis emitir os votos em plena liberdade, e o fiz com grande alegria do meu coração. Desde aquele momento, vivendo na Congregação, eu gozo de uma grande paz de espírito, e agradeço ao Senhor por ter-me feito conhecer a Sociedade Salesiana e por ter-me chamado a nela viver”.
Preparado pelo sofrimento, em 2 de abril de 1892, é ordenado sacerdote em San Remo por Dom Tomás Reggio, bispo de Ventimiglia. O príncipe Ladislau e a tia Isa não participaram da Ordenação. A família toda se reuniu depois em Mentone no dia 3 de maio. Foi uma reconciliação tácita, que impunha ao príncipe Ladislau a renúncia definitiva a sonhos obstinadamente acariciados.
A vida sacerdotal do P. Augusto durou apenas um ano, que ele passou em Alassio, num quarto que dava para o pátio dos meninos.
O cardeal Cagliero resume assim este último momento de sua vida: “Ele não era mais deste mundo! Sua união com Deus, a conformidade perfeita à divina vontade na enfermidade agravada, o desejo de conformar-se a Jesus Cristo nos sofrimentos e nas aflições, tornavam-no heróico na paciência, calmo no espírito, e invicto, mais do que na dor, no amor de Deus”.
Faleceu em Alassio na noite de sábado 8 de abril de 1893, na oitava da Páscoa, sentado na poltrona já usada por Dom Bosco. “Que bela Páscoa!”, tinha dito na segunda-feira ao irmão que o assistia, sem imaginar que celebraria o último dia da oitava da Páscoa no Paraíso. Tinha trinta e cinco anos de idade e cinco de vida salesiana. No santinho da Primeira Missa tinha escrito: “Um dia em teus átrios é para mim mais do que mil em outros lugares. Bem-aventurado quem mora em tua casa: canta sempre os teus louvores” (Salmo 83).
Seu corpo foi levado para a Polônia e tumulado na cripta paroquial de Sieniawa, junto às sepulturas de família, onde um dia Augusto tinha feito a primeira comunhão. Sucessivamente os despojos foram transladados para a igreja salesiana de Przemysl, onde estão até hoje.