quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Beato Filipe Rinaldi



 Vamos conhecer um pouco sobre a vida do terceiro sucessor de Dom Bosco no reitorado maior da Sociedade de São Francisco de Sales. Filipe Rinaldi nasceu em 1856, na cidade italiana de Lu Monferrato, e nesta mesma cidade se encontrou com Dom Bosco ainda na infância. Seu pai se chamava Cristóvão Rinaldi e sua mãe se chamava Antônia Brezzi, além de ter oito irmãos, e dois destes também seriam sacerdotes como ele. Todas as noites sua mãe se ajoelhava com todos os filhos e diante de um oratório de Nossa Senhora os fazia repetir as palavras: “Salve, ó Maria! Eu vos ofereço o meu coração. Ficai para sempre com ele”.
Quando completou dez anos, com a abertura de um seminário na aldeia de Mirabello, seupai Cristóvão decide colocá-lo ali para estudar e receber uma boa formação humana e cristã. Foi acompanhado de modo especial por dois clérigos. Um deles, seu primeiro professor, chamava-se Paulo Álbera, o qual viria a ser o segundo sucessor de Dom Bosco. Alguns problemas fazem com que ele retorne para casa. Dom Bosco continua nos anos seguintes a mandar cartas para que Rinaldi retornasse, e este muitas vezes recusou o convite. Filipe Rinaldi mesmo confessa anos mais tarde: “Eu não tinha intenção alguma de ser padre”. Dificilmente Dom Bosco teria insistido tanto com outro rapaz, porém parecia prever algo de bem preciso no futuro de Filipe.
Em 1875, Dom Bosco vai lhe fazer uma visita em Lu, quando Rinaldi já tinha 18 anos. Durante a conversa, uma mulher enferma entra na casa a procura do santo de Turim, o qual a abençoa invocando Maria Auxiliadora e ela fica imediatamente curada. Depois do extraordinário fato, João Bosco lhe convida pela enésima vez a retornar para a Congregação Salesiana, mas Rinaldi recusa. Anos depois este afirmou: “Permitam o Senhor e a Virgem que, depois de haver resistido tanto à graça no passado, nãovenha eu a abusar mais no futuro”. Filipe Rinaldi, movido por amizades perigosas a moral cristã, começa a se afastar das práticas de piedade, mas por causa de várias admoestações maternas, acaba por retornar a religião. 

Em 1876, Dom Bosco volta a convocá-lo para se tornar um religioso salesiano, e dessa vez Rinaldi não recusa. Entra com 21 anos, vocação tardia para a época, e com muita dificuldade nos estudos, além de muita força de vontade. Em 1880, fez os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência aos pés de Dom Bosco. Tinha exatamente 24 anos. Ele afirmou: “Pensei muito e pude finalmente optar, sinto-me contente com a escolha que fiz”.
Em 1882 passa por uma grande crise, a sua noite escura, conforme diria São João da Cruz, sendo confortado pelo padre Barbéris, o qual constatou: “era precisamente uma dessas horas negras”. Inicia sua escalada ao sacerdócio e, surpreendentemente, Filipe vai adiante não porque dele sentia desejo, mas apenas porque Dom Bosco assim pediu. “Eu não tinha a mínima intenção de me tornar padre. Salesiano, isso sim; mas sacerdote, não.” É ordenado no final de 1882 e celebra, em São Benigno, sua primeira missa na vigília do Natal. Pede a Dom Bosco, depois de ouvir padre Costamagna, missionário salesiano no Uruguai, para deixá-lo partir a América, mas desta vez é Dom Bosco que diz não.
João Bosco o envia como diretor de uma casa para vocações adultas, com certeza devido a sua experiência pessoal, pois também entrou tardiamente na vida salesiana. Muitas vezes Rinaldi se deslocava até Valdocco para expor a Dom Bosco os problemas e dificuldades que encontrava, e este o ouvia com calma e depois o tranquilizava. No entanto, em janeiro de 1888, Dom Bosco vai chegando perto do fim de sua vida. Filipe desejava se confessar com ele, mas como não queria fatigá-lo, pede para ouvi-lo em confissão e dizer apenas uma palavra. No final, Dom Bosco lhe diz “meditação”.
Padre Rua, eleito primeiro sucessor de Dom Bosco no reitorado maior, envia-o para Sarriá, na Espanha, em 1889. Através da oração e da meditação, além de dar o exemplo de alegria entre os jovens durante os recreios e de operosidade e disciplina na hora de trabalhar, conseguiu por em ordem o andamento da casa. Ganhou muitos recursos de Dorotéia Chopitéa Serra, eminente cooperadora das obras salesianas. Após três anos de atuação, padre Rua o nomeia inspetor de todas as obras salesianas da Península Ibérica. Durante este mandato, insiste que as obras não devem ensinar apenas a piedade, mas também dar todo tipo de instrução necessária seja no âmbito profissional ou intelectual.
Em 1901, Rinaldi é nomeado Prefeito Geral, ficando responsável pelos problemas econômicos e disciplinares da Congregação. Mesmo estando em uma função burocrática, nunca perdeu o bom trato com as pessoas que a ele recorriam. Tinha devoção fervorosa a Maria Auxiliadora, e sempre se dirigia a ela nos momentos difíceis. Com a morte de Miguel Rua em 1910, Paulo Álbera é eleito segundo sucessor de Dom Bosco e Filipe é reeleito Prefeito Geral. Conseguiu, com maestria, driblar graves obstáculos administrativos advindos da Primeira Guerra Mundial. Nesse período foi fundador do Instituto Secular das Voluntárias de Dom Bosco e fez o importante trabalho de organização dos ex-alunos das casas salesianas.

Morre, em 1921, padre Álbera, e finalmente é eleito para Reitor-Mor o padre Rinaldi. Um dos salesianos mais provectos, padre Francesia, afirmou que para o novo Reitor maior faltava apenas “a voz de Dom Bosco. Tudo o mais ele o possui”. Como principal gestor da Congregação Salesiana, Filipe deu um profundo impulso missionário à Congregação. Foram exatamente 1868 os salesianos que partiram para as missões durante seu reitorado, mas sempre repetia que a qualidade é mais importante do que a quantidade, e recomendava que “o verdadeiro bem, apenas os santos o conseguem operar”. Além disso, tinha grande carinho pelas irmãs religiosas, e disse que sem elas “não se pode converter uma nação”.
A saúde começou paulatinamente a debilitar, e as muitas viagens requeridas pelo seu ofício lhe eram extremamente penosas, porém a sua presença física era importante para manter a unidade em uma Congregação que se expandia rapidamente pelo mundo. Não conseguindo ficar longe dos jovens, padre Rinaldi ajudava os meninos carentes ou enfermos da periferia de Turim, quase sempre clandestinamente. Maduro e consciente do fim de sua missão, este valoroso filho de São João Bosco vivia frequentemente recolhido em oração, e nela permanecia longamente. “A vida interior – dizia aos salesianos – é a presença de Deus dentro de nós, recordado, invocado e amado.”
Faleceu em dezembro de 1931, sentado no seu quarto e lendo a biografia de Miguel Rua. Após a Segunda Guerra Mundial, iniciaram-se os trâmites de seu processo de canonização. Foi declarado bem-aventurado por João Paulo II em 29 de abril de 1990.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOSCO, Terésio. O Servo de Deus Padre RINALDI. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1990.

CERIA, Eugenio. Don Filippo Rinaldi: Terzo Successore del Don Bosco.Torino – Società Editrice Internazionale, 1932.

INSTITUTO SECOLARE VOLONTARIE DI DON BOSCO. La spiritualità di Don Filippo Rinaldi e la Volontaria di Don Bosco oggi.Don Pietro Schinetti, 1986.

VALENTINI, D. Eugenio. Don Rinaldi: Maestro di Pedagogia e di Spiritualita’ Salesiana. Torino – Crocetta. Istituto Internazionale D. Bosco. Ristampa, 1965.



Fellipe Ávila, noviço salesiano da 
Inspetoria Salesiana São Pio X, Sul do Brasil.






domingo, 25 de novembro de 2012

SANTIDADE SALESIANA: ESPIRITUALIDADE DA FESTA



Para Dom Bosco, a maior santidade e a maior festa era estar na graça de Deus, viver na amizade com Deus, longe de qualquer ofensa a Ele. Este era também o caminho para viver sempre na alegria. “Servi ao Senhor com alegria”, dizia muitas vezes aos seus meninos e jovens. E lhes indicava duas fontes da verdadeira alegria: o Sacramento da Reconciliação, pelo qual se recebe a misericórdia de Deus, é restaurada a amizade rompida, é devolvida a vida divina e é restituída a paz ao coração; e o Sacramento da Eucaristia, pelo qual Jesus vem tomar conta da pessoa de quem o recebe e, dessa forma, nela instaura a alegria que o mundo não pode dar, aquela alegria que só os amigos de Deus provam: ser um só com o Ressuscitado. 

Os meninos e jovens do Oratório de Dom Bosco em Turim sabiam disso e muitos seguiram por esse caminho: viveram em santa alegria. Quando Domingos Sávio – modelo de espiritualidade festiva juvenil – acolheu um companheiro que, pela primeira vez, entrava para a casa de Dom Bosco, disse-lhe: aqui fazemos consistir a nossa santidade em viver sempre alegres, cumprindo os próprios deveres. Nada mais! Também nada mais certo do que isto: os deveres de cada dia são a expressão da vontade do Senhor, e cumpri-los com alegria significa cumpri-los em companhia do Senhor, pois Ele está perto, aliás, está dentro do coração de quem lhe quer bem. Esta foi – e continua sendo – a santidade salesiana, a espiritualidade da festa. Quantos jovens, quantos salesianos se santificaram – e santificam – assim!

Ainda: quando Domingos Savio se empenhou seriamente no caminho da santificação, Dom Bosco proibiu-lhe penitências que ele tinha tentado praticar. Pelo contrário, fez com que enveredasse pelo caminho da santidade salesiana, de uma espiritualidade alegre. E acrescentou uma indicação fundamental: em vez de fazer penitências, que se dedicasse a fazer o bem a seus colegas. Aqui está mais um elemento indispensável da santidade proposta por Dom Bosco: ir ao encontro dos outros para fazer-lhes o bem. Quem tem no coração a mesma vida de Deus, quem procura cumprir sua santa vontade, quem se esforça por doar-se aos outros, este vive sempre contente e está no bom caminho que leva à santificação. É assim que se realiza o que Dom Bosco propunha com frequência a seus meninos e jovens: “Servi ao Senhor com alegria”. 

Não é sem razão que quem visitava o Oratório de Dom Bosco em Turim ficava impressionado ao mergulhar num ambiente que ressoava amor a Deus, fraternidade, espiritualidade, felicidade, alegria. Era a santidade de Dom Bosco que se difundia entre os seus meninos e jovens. É este mesmo tipo de santidade que Dom Bosco continua a propor à juventude de hoje. Feliz de quem a compreender e se esforçar por vivê-la!

Por Dom Hilário Moser, sdb

Dom Hilário Moser é Bispo Emérito da Diocese de Tubarão (SC) e atualmente mora na comunidade salesiana Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas (SP).

sábado, 24 de novembro de 2012

Ir. Maria Troncatti: a neobeata da Família Salesiana!


Nasceu em Corteno Golgi (Brescia) no dia 16 de Fevereiro de 1883. Na família numerosa, cresceu alegre e trabalhadeira, dividindo-se entre os trabalhos do campo e o cuidado dos irmãozinhos, no clima cálido de afeto dos pais exemplares. Assídua à catequese paroquial e aos Sacramentos, a adolescente Maria amadurece um profundo senso cristão que a abre aos valores da vocação religiosa. 

Por obediência ao pai e ao Pároco, portanto, espera atingir a maioridade antes de pedir a admissão no Instituto Filhas de Maria Auxiliadora e faz a Primeira Profissão em 1908 em Nizza Monferrato. Durante a primeira guerra mundial (1915-1918) Ir. Maria acompanha, em Varazze, cursos de assistência sanitária e trabalha como enfermeira da cruz vermelha no hospital militar: uma experiência que lhe será muito mais preciosa ao longo de sua longa atividade missionária na floresta amazônica do Oriente equatoriano. 


 Partiu, de fato, para o Equador em 1922, foi mandada entre os indígenas Shuar, onde, com outras duas irmãs, inicia um difícil trabalho de evangelização em meio a riscos de todos os gêneros, inclusive aqueles causados pelos animais da floresta e das ciladas dos turbulentos rios a serem atravessados a nado ou sobre frágeis "pontes" de cipós, ou ainda sobre os ombros dos índios.

Macas, Sevilla, Dom Bosco, Sucúa são alguns dos "milagres" florescentes, ainda hoje, da ação de Ir. Maria Troncatti: enfermeira, cirurgiã ortopedista, dentista e anestesista... Mas, sobretudo, catequista e evangelizadora rica de maravilhosos recursos de fé, de paciência e de amor fraterno. 

Sua obra shuar, para a promoção da mulher, floresce em centenas de novas famílias cristãs, formadas, pela primeira vez, sobre a livre escolha pessoal dos jovens esposos. Ir. Maria morreu em um trágico acidente aéreo em Sucúa no dia 25 de Agosto de 1969. Seus restos mortais repousam em Macas, na Província de Morona (Equador). A Serva de Deus - Ir. Maria Troncatti - foi declarada Venerável com o Decreto de 08 de novembro de 2008. 
E neste dia 24 de novembro de 2012 é declarada Bem-aventurada.

 Fonte: http://www.cgfmanet.org/_1_.asp?Lingua=5&sez=1&sotSez=4&detSotSez=1&doc=11


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O ano de 1857 na vida da Beata Madalena Morano




Neste ano aconteceram três fatos muito importantes na vida da Beata, dos quais ela se recordou durante toda a vida e, talvez, esses fatos marcaram sua vocação e sua maneira de trabalhar em prol dos mais necessitados.
Primeiramente, após a morte de seu pai e sua irmã, Madalena teve de ajudar a mãe nos afazeres da tecelagem. Todo fim de mês elas iam até a cidade para entregar as encomendas aos fregueses e, ao mesmo tempo, comprar mais materiais para que pudessem continuar seus trabalhos. No fim do mês de março, enquanto voltavam da cidade, foram surpreendidas por dois bandidos que roubaram as sacolas de sua mãe. Madalena então rogou a São José para que nada de mal acontecesse com sua mãe. Foi então que surgiu um robusto homem, trajado com roupas de carpinteiro, que rapidamente espantou os bandidos. Esse homem acompanhou-as até o pequeno vilarejo onde moravam e, quando as duas se voltaram para lhe agradecer tamanha generosidade, ele desapareceu.
Outro fato de grande importância foi a sua Primeira Comunhão. Alguns dias depois do assalto e, segundo Madalena, a “aparição de São José”, exatamente no dia 12 de abril, dia da Ressureição do Senhor (Páscoa), a pequena Madalena Morano recebe a sua Primeira Comunhão. Fato muito importante para sua vida, pois foi neste dia que ela disse que seria “toda do Senhor”. Muitas irmãs que conviveram com ela dizem do quanto Madalena dizia da sua primeira comunhão e o quanto ela se alegrava somente em recordar esse acontecimento em sua vida.

Por fim, em outubro deste mesmo ano, Madalena vê uma pessoa que, segundo ela, lhe orientaria por toda a vida. No dia 11 de outubro, os meninos de Dom Bosco terminavam seu passeio de outono pelas vilas de Monferrato, passando pelo vilarejo onde a família Morano residia. A pequena Madalena e seu irmão Pedro subiram em uma árvore para poder ver e ouvir a banda musical dos jovens de Dom Bosco. De cima da árvore ela viu um padre muito alegre e bondoso. Nem pensava que 21 anos mais tarde esse padre seria seu orientador de maneira definitiva.
Madalena Morano consagra-se a Deus como irmã salesiana em 1880, comprometida com votos perpétuos. Dedica toda a sua vida para a expansão das obras salesianas na Sicília. No dia 26 de março de 1908, com 60 anos, Madre Madalena Morano morre em Catânia, após muito sofrer com uma grave doença.



Teylor Balboeno de Carli, 
noviço salesiano da 
Inspetoria São Pio X, sul do Brasil.