Vamos conhecer um pouco sobre a vida do terceiro sucessor de
Dom Bosco no reitorado maior da Sociedade de São Francisco de Sales. Filipe
Rinaldi nasceu em 1856, na cidade italiana de Lu Monferrato, e nesta mesma
cidade se encontrou com Dom Bosco ainda na infância. Seu pai se chamava
Cristóvão Rinaldi e sua mãe se chamava Antônia Brezzi, além de ter oito irmãos,
e dois destes também seriam sacerdotes como ele. Todas as noites sua mãe se
ajoelhava com todos os filhos e diante de um oratório de Nossa Senhora os fazia
repetir as palavras: “Salve, ó Maria! Eu vos ofereço o meu coração. Ficai para
sempre com ele”.
Quando completou dez anos, com a abertura de um seminário na
aldeia de Mirabello, seupai Cristóvão decide colocá-lo ali para estudar e
receber uma boa formação humana e cristã. Foi acompanhado de modo especial por
dois clérigos. Um deles, seu primeiro professor, chamava-se Paulo Álbera, o
qual viria a ser o segundo sucessor de Dom Bosco. Alguns problemas fazem com
que ele retorne para casa. Dom Bosco continua nos anos seguintes a mandar
cartas para que Rinaldi retornasse, e este muitas vezes recusou o convite.
Filipe Rinaldi mesmo confessa anos mais tarde: “Eu não tinha intenção alguma de
ser padre”. Dificilmente Dom Bosco teria insistido tanto com outro rapaz, porém
parecia prever algo de bem preciso no futuro de Filipe.
Em 1875, Dom Bosco vai lhe fazer uma visita em Lu, quando
Rinaldi já tinha 18 anos. Durante a conversa, uma mulher enferma entra na casa
a procura do santo de Turim, o qual a abençoa invocando Maria Auxiliadora e ela
fica imediatamente curada. Depois do extraordinário fato, João Bosco lhe
convida pela enésima vez a retornar para a Congregação Salesiana, mas Rinaldi
recusa. Anos depois este afirmou: “Permitam o Senhor e a Virgem que, depois de
haver resistido tanto à graça no passado, nãovenha eu a abusar mais no futuro”.
Filipe Rinaldi, movido por amizades perigosas a moral cristã, começa a se
afastar das práticas de piedade, mas por causa de várias admoestações maternas,
acaba por retornar a religião.
Em 1876, Dom Bosco volta a convocá-lo para se tornar um
religioso salesiano, e dessa vez Rinaldi não recusa. Entra com 21 anos, vocação
tardia para a época, e com muita dificuldade nos estudos, além de muita força
de vontade. Em 1880, fez os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência
aos pés de Dom Bosco. Tinha exatamente 24 anos. Ele afirmou: “Pensei muito e
pude finalmente optar, sinto-me contente com a escolha que fiz”.
Em 1882 passa por uma grande crise, a sua noite escura,
conforme diria São João da Cruz, sendo confortado pelo padre Barbéris, o qual
constatou: “era precisamente uma dessas horas negras”. Inicia sua escalada ao
sacerdócio e, surpreendentemente, Filipe vai adiante não porque dele sentia
desejo, mas apenas porque Dom Bosco assim pediu. “Eu não tinha a mínima
intenção de me tornar padre. Salesiano, isso sim; mas sacerdote, não.” É
ordenado no final de 1882 e celebra, em São Benigno, sua primeira missa na
vigília do Natal. Pede a Dom Bosco, depois de ouvir padre Costamagna,
missionário salesiano no Uruguai, para deixá-lo partir a América, mas desta vez
é Dom Bosco que diz não.
João Bosco o envia como diretor de uma casa para vocações
adultas, com certeza devido a sua experiência pessoal, pois também entrou
tardiamente na vida salesiana. Muitas vezes Rinaldi se deslocava até Valdocco
para expor a Dom Bosco os problemas e dificuldades que encontrava, e este o
ouvia com calma e depois o tranquilizava. No entanto, em janeiro de 1888, Dom
Bosco vai chegando perto do fim de sua vida. Filipe desejava se confessar com
ele, mas como não queria fatigá-lo, pede para ouvi-lo em confissão e dizer
apenas uma palavra. No final, Dom Bosco lhe diz “meditação”.
Padre Rua, eleito primeiro sucessor de Dom Bosco no
reitorado maior, envia-o para Sarriá, na Espanha, em 1889. Através da oração e
da meditação, além de dar o exemplo de alegria entre os jovens durante os recreios
e de operosidade e disciplina na hora de trabalhar, conseguiu por em ordem o
andamento da casa. Ganhou muitos recursos de Dorotéia Chopitéa Serra, eminente
cooperadora das obras salesianas. Após três anos de atuação, padre Rua o nomeia
inspetor de todas as obras salesianas da Península Ibérica. Durante este
mandato, insiste que as obras não devem ensinar apenas a piedade, mas também
dar todo tipo de instrução necessária seja no âmbito profissional ou
intelectual.
Em 1901, Rinaldi é nomeado Prefeito Geral, ficando
responsável pelos problemas econômicos e disciplinares da Congregação. Mesmo
estando em uma função burocrática, nunca perdeu o bom trato com as pessoas que
a ele recorriam. Tinha devoção fervorosa a Maria Auxiliadora, e sempre se
dirigia a ela nos momentos difíceis. Com a morte de Miguel Rua em 1910, Paulo
Álbera é eleito segundo sucessor de Dom Bosco e Filipe é reeleito Prefeito
Geral. Conseguiu, com maestria, driblar graves obstáculos administrativos
advindos da Primeira Guerra Mundial. Nesse período foi fundador do Instituto
Secular das Voluntárias de Dom Bosco e fez o importante trabalho de organização
dos ex-alunos das casas salesianas.
Morre, em 1921, padre Álbera, e finalmente é eleito para
Reitor-Mor o padre Rinaldi. Um dos salesianos mais provectos, padre Francesia,
afirmou que para o novo Reitor maior faltava apenas “a voz de Dom Bosco. Tudo o
mais ele o possui”. Como principal gestor da Congregação Salesiana, Filipe deu um
profundo impulso missionário à Congregação. Foram exatamente 1868 os salesianos
que partiram para as missões durante seu reitorado, mas sempre repetia que a
qualidade é mais importante do que a quantidade, e recomendava que “o
verdadeiro bem, apenas os santos o conseguem operar”. Além disso, tinha grande
carinho pelas irmãs religiosas, e disse que sem elas “não se pode converter uma
nação”.
A saúde começou paulatinamente a debilitar, e as muitas
viagens requeridas pelo seu ofício lhe eram extremamente penosas, porém a sua
presença física era importante para manter a unidade em uma Congregação que se
expandia rapidamente pelo mundo. Não conseguindo ficar longe dos jovens, padre
Rinaldi ajudava os meninos carentes ou enfermos da periferia de Turim, quase
sempre clandestinamente. Maduro e consciente do fim de sua missão, este
valoroso filho de São João Bosco vivia frequentemente recolhido em oração, e
nela permanecia longamente. “A vida interior – dizia aos salesianos – é a
presença de Deus dentro de nós, recordado, invocado e amado.”
Faleceu em dezembro de 1931, sentado no seu quarto e lendo a
biografia de Miguel Rua. Após a Segunda Guerra Mundial, iniciaram-se os
trâmites de seu processo de canonização. Foi declarado bem-aventurado por João
Paulo II em 29 de abril de 1990.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CERIA, Eugenio. Don
Filippo Rinaldi: Terzo Successore del Don Bosco.Torino – Società Editrice
Internazionale, 1932.
INSTITUTO SECOLARE VOLONTARIE DI DON BOSCO. La spiritualità di Don Filippo Rinaldi e la Volontaria
di Don Bosco oggi.Don Pietro Schinetti, 1986.
VALENTINI, D. Eugenio. Don
Rinaldi: Maestro di Pedagogia e di Spiritualita’ Salesiana. Torino –
Crocetta. Istituto Internazionale D. Bosco. Ristampa, 1965.
Fellipe Ávila, noviço salesiano da
Inspetoria Salesiana São Pio X, Sul do Brasil.